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DATA DA PUBLICAÇÃO 18/05/2008 | Setecidades
Região tem sete abortos por dia, aponta estimativa
A clandestinidade que envolve o tema aborto no Brasil impede a realização de um diagnóstico oficial para fins médicos ou mesmo para a adoção de novas políticas de saúde pública. A alternativa é trabalhar com estimativas, feitas por gestores médicos, com base no número de internações de mulheres por abortamento nos hospitais. Este cálculo mostra que um a cada cinco abortos seja induzido no País.

Mas as informações são subnotificadas e, por isso, outra conta ainda pode ser feita para tentar decifrar o universo de mulheres que interrompem uma gravidez indesejada. Segundo o Ministério da Saúde, apenas 20% das mesmas mulheres procuram por atendimento pós-abortamento em virtude de complicações como hemorragias ou infecções.

De acordo com levantamento feito pelo Diário, a rede pública de Saúde da região registrou, ano passado, 2.700 internações por abortamento. "Então, poderíamos inferir que 540 casos foram realizados em condições inseguras (em casa ou clínicas clandestinas). Mas esse número representa apenas a ponta do iceberg, ou seja, 20%. Deste modo, poderíamos estimar 2.700 casos de abortamento induzido na região, dos quais 2.160 nem chegaram ao sistema público", diz a enfermeira Maria Inês Roseli Puccia, do Departamento de Assistência à Saúde de Santo André.

O silêncio esconde uma situação preocupante. Por dia, estima-se que sete abortos sejam provocados no Grande ABC. Para interromper a gravidez não-planejada, a mulher brasileira recorre a comprimidos, chás e ervas. Muitas vezes há consentimento médico. O coordenador do Programa de Saúde da Mulher de São Bernardo, Rodolfo Strufaldi, conta que há médicos que orientam o aborto ilegal.

"A procura por clínicas clandestinas é rara. Na região, é difícil termos conhecimento de alguma. O que acontece hoje são acordos entre pacientes e médicos, que orientam a mulher a tomar a medicação e depois providenciam a curetagem como se o aborto fosse natural", revela.

A maioria das mulheres que procuram os hospitais, com sangramentos ocasionados pelo abortamento, não fala a verdade. "Ela se cala. Percebemos o que aconteceu por meio de exames clínicos. Ela sabe que é ilegal. Quando abre o jogo, é para a assistente social porque tem medo de ser denunciada. Medo de ser penalizada", completa Strufaldi.

Mulher aborta com remédio e em casa

Apesar de perigosos, os métodos caseiros são os mais utilizados pela mulher brasileira para abortar. A explicação pode estar na facilidade em obter a medicação clandestina. Na internet, o risco é superado pelo lucro. Uma simples pesquisa em sites de busca leva a gestante de encontro ao principal abortivo usado no País: o cytotec, nome comercial dado à substância misopostrol, usada originalmente para combater úlceras gástricas.

A venda é proibida em território nacional, mas o remédio - autorizado apenas para utilização em hospitais - é comercializado por meio de boleto bancário, em até duas vezes sem juros, com entrega em domicílio. A encomenda chega pelo correio a preços que variam entre R$ 250 e R$ 400.

No ambiente virtual, ainda há dicas de uso e compra. No site de relacionamentos Orkut, comunidades alertam para o risco do comprimido falsificado. O manual de instruções muitas vezes chega a ser ilustrado com fotos que mostram a diferença entre o produto verdadeiro e o falso.

E os cuidados não são inúteis. Segundo dados do Departamento de Assistência à Saúde de Santo André, o abortamento é a terceira causa de morte materna no Estado. As principais conseqüências são hemorragias, infecções, perfuração uterina, esterilidade e, muitas vezes, morte", afirma Maria Inês Roseli Puccia, enfermeira do Departamento de Assistência à Saúde de Santo André.

Nas estatísticas do governo federal, mais um número em branco. Entre as causas de morte computadas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) na rede de assistência hospitalar, não há óbitos por aborto.

Respaldo legal - A lei brasileira permite a interrupção da gravidez em dois casos: quando a gravidez é resultante de um estupro - comprovado com exame -, ou quando há risco de morte da mãe. O procedimento é autorizado pelo poder público e realizado em hospitais cadastrados.

Em São Paulo, o Hospital Pérola Byington é referência. O programa Bem-Me-Quer, para vítimas de violência doméstica, acompanha a decisão da mulher, em ambas as possibilidades, e oferece o respaldo exigido na Lei.

A psicóloga Daniela Pedroso atende uma média de duas mulheres por semana. O trauma vivenciado em situação de extrema violência não torna a decisão de abortar fácil, mas ameniza as conseqüências da escolha.

"Ninguém engravida para abortar. Quem decide pelo procedimento considera esta a melhor entre as alternativas possíveis. É muito complicado para a mulher gerar um filho de uma pessoa que a fez tão mal. Um monstro, para a maioria delas", diz.

A autorização não precisa ser judicial nem ter registro policial. "A mulher é aconselhada a fazer boletim de ocorrência, sim, por questões de segurança pública, mas isso não é determinante. A mulher passa por uma avaliação médica, que verifica se aconteceu a violência. Em casos de estupro, o aborto é questão de cidadania."

No Brasil, é mais do que isso. É tema de discussões calorosas que envolvem direitos, crenças, responsabilidade criminal e poder de escolha.

Negras e pobres sofrem mais com abortos malfeitos

A mulher que pratica o aborto no Brasil é casada, católica, tem entre 20 e 29 anos e toma a decisão em conjunto com o marido, segundo pesquisa da Universidade de Brasília e Universidade Estadual do Rio de Janeiro. A que morre em função da interrupção da gravidez indesejada, feita de maneira clandestina, tem outro perfil: é negra, pobre e tem baixa escolaridade, de acordo com a ONG Advocacia Cidadã pelos Direitos Humanos.

A disparidade de condições coloca o aborto como tema de Saúde pública. Segundo defensores da legalização, a opção deve ser concedida até como forma de equilibrar os direitos femininos no Brasil. Em 2005, 200 mil mulheres foram internadas na rede pública por tentativas de aborto. Vale lembrar que o número representa apenas 20% do total.

"A pessoa deve ter a consciência de que abortar é matar", diz bispo

A Igreja Católica promove neste domingo um grande evento contra o aborto no ginásio Poliesportivo de São Bernardo. Em entrevista ao Diário, o bispo Dom Nelson Westrupp fala sobre legalização do aborto, formação religiosa e pesquisas de opinião que revelam que mulher que aborta é católica.

Por Adriana Ferraz - Diário do Grande ABC / Foto: www.fcsh.unl.pt
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