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DATA DA PUBLICAÇÃO 11/12/2017 | Cidade
Murilo dá sequência ao legado dos Paccola
Murilo dá sequência ao legado dos Paccola  Jogador de 22 anos supera tragédias pessoais para assumir deveres do pai e do avô em Mauá. Foto: Denis Maciel/DGABC
Jogador de 22 anos supera tragédias pessoais para assumir deveres do pai e do avô em Mauá. Foto: Denis Maciel/DGABC
As cicatrizes à mostra nos joelhos são decorrentes de três cirurgias para corrigir lesões que teimam em adiar o sonho de seguir a carreira como jogador de futebol profissional. Entretanto, as marcas são pequenas perto das que estão escondidas no coração. Aos 22 anos, o volante Murilo Paccola teve um 2017 árduo. Ele não apenas passou pela terceira intervenção cirúrgica da vida de atleta, como perdeu o pai e ex-secretário de Esportes e Lazer de Mauá Sandro, assassinado, e o avô, Álvaro, que sofreu um infarte ao saber da morte do filho. E tudo isso em intervalo de três semanas. Passados seis meses, se divide entre família, Grêmio Maringá, cargo na Prefeitura, fisioterapias para voltar aos campos e a faculdade de Administração.

“Foram semanas que ficaram marcadas e, se pudesse, deletaria da vida. Mas faz parte. A gente não está livre de sofrimento, dificuldades, cada um tem um fardo a carregar e não cabe a nós julgar se é certo ou errado. A gente acorda e chora. A gente vai dormir, ora, lembra e chora. Mas é assim, chorando e sendo forte, caindo e ao mesmo tempo levantando. Falo para minha avó: ‘No chão não vamos ficar, não podemos nos entregar, porque não seríamos justos com meus pai e avô’. Eles sempre nos ensinaram a enfrentar as dificuldades. Para o meu pai, não tinha coisa impossível, sempre dava jeito a tudo. E isso me motiva. Perdi minha maior referência, mas, ao mesmo tempo, tenho que honrá-lo, fazer a pena tudo o que me passou em 22 anos. Se não, tudo foi em vão. A gente não vai acertar sempre, mas procuro fazer meu melhor a cada dia, por mais difícil que seja, e seguir”, diz Murilo.

As histórias de Álvaro e Sandro se confundem com as do futebol amador e profissional de Mauá. O avô, em 1975, foi um dos fundadores do Grêmio Esportivo Jardim Maringá, equipe que representa o bairro onde a família reside há décadas. O pai defendeu as cores do Grêmio Mauaense, participando da campanha do acesso à Segunda Divisão de 1985 (atual Série A-2), além de ter jogado em times da várzea e, dede 2004, presidia o Maringá. Atualmente, coube a Murilo assumir o posto de presidente e treinador do Tricolor.

“Nada vai suprir a saudade, a falta que fazem, mas amadureci bastante com tudo o que aconteceu. Lógico que temos os momentos de fraqueza, saudade, mas na maior parte do tempo, a todo momento que lembro deles me sinto mais forte. Desde os 5 anos, quando comecei no futsal, me ajudaram totalmente. Nos momentos mais difíceis nessas lesões, foram meu alicerce, em nenhum momento me deixaram fraquejar ou desistir. Graças à minha família hoje dou sequência à vida, ao trabalho do meu pai”, ressalta. “Como está escrito nesta camiseta, ‘seu legado será honrado’”, emenda, referindo-se à peça que veste com caricatura de Sandro e a frase.

Murilo refere-se à morte do pai como tragédia. Eles e avô estavam em frente à casa onde moravam quando o ex-secretário foi atingido por disparo de espingarda. Após 22 dias internado, não resistiu. Horas depois de receber a notícia, o coração do avô não suportou e, ao meio-dia do dia seguinte, o jovem velava lado a lado os maiores ídolos. “Parecia pesadelo. Até hoje custo a acreditar no que aconteceu. E numa tacada só meu avô não aguentou. Mas sobre ele penso diferente, que foi prova de amor. Dali em diante, pensei o que seria da minha vida. Perdi minhas referências”, relata.

Sentado em um banco à beira do gramado do Estádio Pedro Benedetti, Murilo fala com orgulho dos entes. Relembrou histórias, sorriu, segurou as lágrimas, perdeu o olhar olhando para o campo... “Aqui, eu não tinha nem 1 ano e meio e já vinha, no colo do meu pai. Ele tem história bonita no Grêmio Mauaense como jogador, treinador, gestor e diretor da base. Então olhar esse gramado relata muita coisa da vida dele, do que foi, do que viveu. Meu pai sempre falava que as portas se abriram através do esporte, então sempre foi grato ao futebol e ao Mauaense. Cada vez que a gente chegava aqui era uma história diferente que contava.”

PREFEITURA
Atualmente, Murilo cursa Administração à noite. Durante o dia, trabalha na secretaria de Esportes e Lazer de Mauá, Pasta que há seis meses era chefiada pelo pai. “É mais um motivo de alegria para mim, porque estou colaborando com o esporte de Mauá. Ele chegou onde queria, sonhava em ser secretário, então o pouco que eu esteja ajudando é gratificante para mim aqui, e para meu pai e avô lá em cima. Mauá perdeu grande pessoa, que faria diferença para o esporte.”

E é assim, cercado de afazeres e sob herança de responsabilidades que Murilo segue. “O fardo é grande, mas a gente vai seguindo. Minha felicidade só não é completa por não ter eles aqui, mas sei que espiritualmente estão cuidando de mim e da minha família”, finaliza.

Receio e dor colocam carreira em xeque

Aos 5 anos, Murilo Paccola dava os primeiros chutes no União Futsal, de Mauá. Sete anos depois, chegou ao Corinthians para jogar futebol, mas acabou dispensado. Foi parar no Santo André, no qual passou dez temporadas. No Ramalhão alcançou o ápice. Considerado promessa, assinou o primeiro contrato profissional aos 16 anos, pouco depois de tirar cidadania italiana e passar semanas treinando na Lazio. No ano seguinte, foi um dos destaques do time sub-17 e chamou novamente a atenção do Timão, mas seguiu em terras andreenses. Quis o destino que, em 2014, sua carreira sofresse o primeiro baque: em julho, durante preparação para os Jogos Regionais, sofreu lesão no ligamento cruzado anterior e no menisco. Ali, começava a travar difícil batalha contra as contusões, que ainda hoje colocam a carreira em xeque.

Oito meses após a primeira intervenção, uma precipitação: durante as férias, em brincadeira com o pai, acabou sofrendo a mesma lesão. “Achei que estava forte, mas não estava”, lamenta. “Foi aquele choque, a gente se pergunta o por quê de tudo.”

Após nova intervenção cirúrgica, problemas. “Foram muitas complicações na recuperação, até suspeita de trombose”, relembra. “Recebi do médico um protocolo de nove meses e fiquei um ano e meio parado por conta dessa cirurgia. Foram complicações atrás de complicações”, conta.

E em meio a todo o processo de recuperação, durante atividade na academia, uma surpresa nada agradável. “Rompi de novo, com sete meses, na cadeira estensora”, suspira. E o agravante: ele não soube na oportunidade, continuou o tratamento, acabou não renovando com o Santo André no fim do ano passado e acertou para disputar a temporada 2017 no Grêmio Mauaense. Murilo aprendeu a lidar com a dor, era destaque nos treinos, até que um dia... “Estava me sentindo bem, apesar de as dores incomodarem. Mas chegou momento que não aguentei: saí arrastado de um treino e fiquei três dias sem andar.”

Acompanhado pelo pai, o jovem volante passou por diversos exames, até descobrir o motivo de tanto sofrimento. “Falei para o meu pai: ''''não dá, meu joelho não está aguentando''''. Não me via mais no futebol. Não aguentava mais sentir dor, não era mais prazeroso para mim. Acordava e ia triste, falava ''''vou lá sentir dor'''', porque sabia que o joelho ia falhar comigo. A correria que ele fez para eu operar esta terceira vez não está escrita. Deixava de ir trabalhar para ir em hospital, médico indicado... Fomos para todo lado tentar entender o que eu tinha. Foi quando detectou que estava com três ligamentos e o menisco estourados.”

Em maio, na mesma semana que o pai estava internado no Hospital Mario Covas, em Santo André, em recuperação, Murilo fez sua terceira cirurgia no joelho esquerdo. Utilizou enxerto do direito – a outra alternativa seria utilizar de cadáver – para buscar curar o outro. Agora, faz fisioterapia quase todo dia para daqui cinco meses decidir se volta ou não aos gramados.

“Só eu sei o que passei. Pelas dores. Foram muitas nesses três anos. Jogar sempre foi e continua sendo um sonho. Não só meu como da família toda. Mas hoje fico dividido, porque priorizo qualidade de vida. A gente sabe que os tempos são modernos, tem recuperação diferente do passado, melhores aparelhagens e estruturas para recuperar, mas fico com pé atrás pelo histórico que venho tendo. Muitas vezes me pergunto: ''''será que meu joelho aguenta?''''. Jogar profissionalmente é totalmente diferente de brincar com amigos. É alto nível, precisa estar voando. Então tenho essa dúvida na minha cabeça. Vai depender da minha recuperação”, encerra.

Irmão mais novo, Gianluca segue passos como volante no São Caetano

Se Murilo tem dúvidas sobre sua sequência no futebol, o legado dos Pacola dentro das quatro linhas parece estar garantido com seu irmão mais novo, Gianluca, 14 anos, que disputou o Paulista Sub-15 pelo São Caetano, tem contrato até dezembro de 2018 e sonha ser jogador. A exemplo do irmão, também atua como volante, se sente à vontade nas cobranças de bola parada e iniciou no salão, aos 5 anos, com a camisa do União Futsal. Os próximos passos, segundo o mais velho, dependem apenas de Gian.

Sem as principais figuras que o mostraram o caminho no esporte, coube a Murilo assumir o papel de espelho e instrutor do jovem. “Óbvio que não vou substituir, porque meu pai é insubstituível. Se ele faz falta para mim, com 22 anos, imagina para um menino de 14. Mas ele tem cabeça boa, é centrado no que quer e isso vem graças aos meus pai e avô, que sempre ensinaram para sermos determinados, focados nos objetivos”, diz o irmão mais velho.

“É meu dever dar dicas, puxar a orelha quando precisa... A gente sabe o quanto é difícil ser jogador”, conta Murilo, que vê em Gianluca não apenas similaridade no jeito de ser, mas também em campo. “A gente é muito parecido até jogando.”

Dentro de todo olhar crítico de um irmão/pai-coruja, Murilo acredita no potencial do irmão no futebol. “Tem futuro. O que depender da gente, vamos fazer por ele. Cabe a ele também mostrar dentro de campo, como vem fazendo. O resto vai acontecer naturalmente. Se estiver preparado para a oportunidade quando ela surgir, tem tudo para conseguir os objetivos”, conclui.

Grêmio Maringá: paixão familiar que passa de geração para geração

Fundado em 1975 no Jardim Maringá, em Mauá, o Grêmio Maringá deve sua existência à família Paccola. Álvaro, o avô, participou da fundação. O tio, Marcelo – o Zata – e o pai, Sandro, vestiram a camisa, sendo que este ainda assumiu a presidência em 2004 e transformou uma sede simples à beira do rio em verdadeiro complexo de eventos com quadra society, salão e outros. E, neste ano, após as tragédias de maio, Murilo assumiu o controle tanto na gestão quanto à beira de campo, como técnico dos times principal e veterano, com ajuda de outros parentes que tomam conta de outros setores da agremiação. Ou seja, trata-se de projeto familiar que passa de geração para geração.

O primeiro desafio do jovem à frente do time foi participar ou não da divisão de acesso da várzea de Mauá. A princípio, ele titubeou. Depois, entretanto, confirmou a presença do Tricolor na competição. “No começo falei: ‘pode tirar o time, não vamos disputar, não consigo’. Mas depois, pensando em casa, achei que não era justo pelo tanto que amava e gostava do Maringá. Sempre acompanhei. Desde pequeno venho respirando o Maringá, então decidi dar continuidade ao sonho dele”, destaca Murilo, que montou a equipe com sete jogadores de 17 anos (em parceria com a base do Mauaense) e três de 43 (do time veterano da própria agremiação).

O resultado: acesso conquistado na casa do tradicional Itapeva. “Encantamos pelo futebol. Ninguém apostava”, conta o técnico-presidente. “Para mim foi e está sendo desafio. Não é proque consegui acesso que fiz minha parte. É mesmo dar sequência ao trabalho do meu pai.”

Por Dérek Bittencourt - Diário do Grande ABC
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